sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Tenebra.

Demorei anos tentando compreender de onde a nevoa que morava em mim veio. Não era nenhum sentimento estragado, nenhuma febre ou doença, nem eram saudades, nem era distância, disso me punha a ter certeza. Era uma nuvem tênue que me cobria, era... E eu era alguma coisa que se condizia a palavras que me prepuseram meses atrás, esgueirava-me na dúvida que de longe parecia sólida, não cutucava calos, deixava que murchassem e assim sobressaía-me de feridas que de longe pareciam ir sarando aos poucos, marca nenhuma me tocava. Assim como eu mesmo não me punha a tocar ferida alguma. Aceitei enfim, que os ventos levassem tudo embora, alguma coisa que em mim – e pode-se chamar de amadurecimento, até mesmo rabugice – com o passar do tempo foi tirando esses meus impulsos amorosos. Afastava-me das coisas e pessoas que, vagarosamente, me acolhiam. Lembrava-me docemente de passados amortecidos que fui perdendo. Alguma coisa falha em mim me fazia lembrar de algumas dores que no meu álbum velho de fotografias não existia, jogava-me nas lembranças, afogava-me... Chorava tantas dores e medos, timbro... Compreendia que era isso que me tornava aos poucos, timbro, e se queria essa capitania elitista, individualista, contra me punha há alguma fé que desconhecia, contra me punha a valores que há mim eram desconhecidos. Mais me parecia um sapato velho, prestes a ir ao lixo. A sola esgotada, o seu brilho apagado, pueril sapato. Jogado. Prestes fielmente ao encontro com o seu próprio dono: O tempo... Acabar-se-ia de vez nos seus 60 anos, quem sabe mais. Duraria algum tempo, esgotar-se-ia de dores. E enfim, ainda não cobraria nada, morto-vivo. (Sou humano por essa dádiva, pelos meus lamentos, pelos questionamentos que ainda me ponho a fazer quando acordo, sabe? Sou humano por ter decisões. Sou humano por ter fé no mundo e na gente, cara...)


Mas eu não quero ter essa sorte balanceada, nem viver como um morto-vivo. Entrego minha sorte ao tempo, vou deixando que enfim se jogue pro lado algumas coisas que eu mesmo não entendo. Vou vivendo cara, porque eu sei que mais tarde se morre, vai saber até mais cedo, não faço previsões do tempo... Mas, eu vou, vou pra algum lugar onde nem eu ou você se bata, vou pro meu canto e deixo que a vida passe, vai vivendo cara, como eu sei que é viver...

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