terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Cabala.

Fazemos faces, bicos, comerciais... Encurtamos o corpo pra vestir as roupas certas, fumamos um cigarro pra parecermos modernos, fazemos menos amigos pra ser meio antenados e ter nossos próprios mundos. Matamos os nossos pais em pensamento pra causar a liberdade, nos revoltamos com a vizinha que não nos deixa ouvir o nosso som em paz, nos suicidamos pra sermos comoventes. Fazemos até cena de TV e vamos investir no Twitter pra sermos popular, vamos encaixar a divindade no nosso nome e vamos até mesmo destruir a nossa moradia e beleza só pra ser um pouco agressivo. Matamos milhares de pessoas todos os dias, o amor a cada segundo, desistimos de nós mesmos a cada instante, lutamos pela igualdade e se vê descaso. Achamos o que é perdido certo e o certo como perdido. A lei perdeu a validade, a arrogância tornou-se convincente. As pessoas não são mais quem são, se cobrem com a faca, a vela, a tendência e a costura do seu corpo fica a mostra. Perderam-se os valores.


Moralmente falando, recobro toda a vida taxada. O mundo não é mais uma coberta, tornou-se essa sapiência encubada, raros são esses que se abalam com os seus próprios sentimentos e que vão à luta pelas suas próprias ânsias. O segredo de existir não é deixar e viver. O segredo é insistir em si mesmo, enquanto a revolta faz-se o caso, a humildade e vontade ficam a milhas de distâncias do peito...

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Soslaio.

Olha aqui:

A gente passa metade da vida da gente construindo e derrubando muros.
Espera pelo príncipe no cavalo branco, pela Cinderela na carruagem... Espera até mesmo o sono profundo. A gente move cada esperança boba. Cada sonhos e suspiros que o nosso coração alimenta. A gente faz curvas na própria casa, a gente nada fora d’água. A gente tem fé em alguma coisa. A gente até ama mais do que deve, bebe mais do que deve, chora e espanta. Chora de emoção, de alegria, chora pelos objetivos alcançados.

A gente chora pelo abraço perdido, pela montanha derrubada. Pelo corpo que se foi, pela lágrima que escorre, chora pela gente, chora por gente... Sem querer, sabemos dos nossos sentimentos. E mesmo lutando com os muros, quebrando os dos outros, levantando os nossos, a gente continua parado. Falavam-me sempre de um tripé, de uma instabilidade, de um romance... Cheguei à conclusão que eu preciso de quatro pernas pra viver, que eu preciso de alguém que ande do meu lado. Não de alguém que me deixa estático, isso não é vida, não tem emoções além das próprias e o tempo mesmo vai se perdendo. A gente sonha sabe? Sonha com um dia em que estaremos do lado de alguém que amamos, abraçaremos forte e baixo, calaremos todo o mundo e choraremos de alegria.

A vida não tem vários muros. A vida é uma estrada que não tem rumo enquanto não tivermos escolhas. Pegue o seu cimento e tinta, vai colorindo a sua estrada, o seu caminho... Vai pintando a sua vida e não se assuste com os buracos que arrombarão essa sua obra, reconstrua, não espere. Apenas faça, faça o caminho que você quer seguir.

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Chiaroscuro.

Deteste-me
Abraça-me
Cale-me
Engula-me
Deseje-me
Segura-me

Não me sinta
Não me queira
Não me espere
Não me perca
Não me deixa
Não me ame

Forte
Leve
Fraco
Instinto

Feminina como bruma
Masculino como pedra
Devora-te ser que és
Compreenda que assim seja
Avalia-te como foi
Esqueça quem és

Apague-se
Desnuda-se
Cubra-se
Esqueça-me
Passado te devora
Instintos mudos se aproximam
Cavalo de tróia em queda
Tereza há vista
Romeu e Julieta morrendo
Vistas

Dores em espinhos
Espinho sem dores
Amores sem perdidos
Perdidos com amores
Avalia-me
Só não me perca
Mas, também não sinta
Esguia
Respira
Boca fechada.

O silêncio destes escombros,
A qual por fim, não perdoou.
Esconda.

Tenebra.

Demorei anos tentando compreender de onde a nevoa que morava em mim veio. Não era nenhum sentimento estragado, nenhuma febre ou doença, nem eram saudades, nem era distância, disso me punha a ter certeza. Era uma nuvem tênue que me cobria, era... E eu era alguma coisa que se condizia a palavras que me prepuseram meses atrás, esgueirava-me na dúvida que de longe parecia sólida, não cutucava calos, deixava que murchassem e assim sobressaía-me de feridas que de longe pareciam ir sarando aos poucos, marca nenhuma me tocava. Assim como eu mesmo não me punha a tocar ferida alguma. Aceitei enfim, que os ventos levassem tudo embora, alguma coisa que em mim – e pode-se chamar de amadurecimento, até mesmo rabugice – com o passar do tempo foi tirando esses meus impulsos amorosos. Afastava-me das coisas e pessoas que, vagarosamente, me acolhiam. Lembrava-me docemente de passados amortecidos que fui perdendo. Alguma coisa falha em mim me fazia lembrar de algumas dores que no meu álbum velho de fotografias não existia, jogava-me nas lembranças, afogava-me... Chorava tantas dores e medos, timbro... Compreendia que era isso que me tornava aos poucos, timbro, e se queria essa capitania elitista, individualista, contra me punha há alguma fé que desconhecia, contra me punha a valores que há mim eram desconhecidos. Mais me parecia um sapato velho, prestes a ir ao lixo. A sola esgotada, o seu brilho apagado, pueril sapato. Jogado. Prestes fielmente ao encontro com o seu próprio dono: O tempo... Acabar-se-ia de vez nos seus 60 anos, quem sabe mais. Duraria algum tempo, esgotar-se-ia de dores. E enfim, ainda não cobraria nada, morto-vivo. (Sou humano por essa dádiva, pelos meus lamentos, pelos questionamentos que ainda me ponho a fazer quando acordo, sabe? Sou humano por ter decisões. Sou humano por ter fé no mundo e na gente, cara...)


Mas eu não quero ter essa sorte balanceada, nem viver como um morto-vivo. Entrego minha sorte ao tempo, vou deixando que enfim se jogue pro lado algumas coisas que eu mesmo não entendo. Vou vivendo cara, porque eu sei que mais tarde se morre, vai saber até mais cedo, não faço previsões do tempo... Mas, eu vou, vou pra algum lugar onde nem eu ou você se bata, vou pro meu canto e deixo que a vida passe, vai vivendo cara, como eu sei que é viver...